Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Graça/ Igreja Matriz

A padroeira desta igreja é a Senhora da Graça.

Uma obra que data de 1570, no entanto já perdeu muitas das características ancestrais, quando nos anos de 1845 – 1881, sofreu obras, levadas a cabo pela Confraria do Rosário.

As últimas obras de restauro de interiores foram feitas em 1969.

Enquadramento

Urbano, isolado. Fachada principal abre para o largo calcetado e tem acesso por escadaria e pequeno adro com rampa; fachadas laterais e posterior abrindo para ruas calcetadas, de circulação e parqueamento automóvel.

Descrição

Planta composta por nave, capela-mor, mais baixa e estreita, e tendo adossados, a Noroeste, batistério de planta quadrada, a Nordeste., a Sacristia e a Sueste, a torre sineira, de planta quadrada e um anexo com as instalações sanitárias.

Volumes escalonados e articulados, massas dispostas na vertical.

Cobertura diferenciada em telhados de uma água no anexo e nos contrafortes, de duas águas na nave, capela, batistério e cabeceira, em cúpula bolbosa na torre sineira.

Fachada principal orientada, de pano único delimitado por cunhais de cantaria e com embasamento pétreo; portal axial de molduras de granito, com verga alteada a que se sobrepõe frontão também de granito; portadas de madeira tendo na bandeira a data de 1881; ladeado o portal, ao centro de cada pano, cruz de mármore assinalando os Passos da Via-sacra, tendo início o 1º do lado direito e o último, o 14º, do lado esquerdo; sobre o portal rasga-se janelão de verga curva e molduras de granito; remate em frontão triangular, decorado por volutas e enrolamentos, com arestas pintadas a cor amarela; no tímpano rasga-se ao centro óculo reentrante, com moldura pintada a cor amarela; no remate dos cunhais, pináculos nascendo de urnas de alvenaria; no vértice cruz de mármore sobre peanha de alvenaria com a data 1874 em estuque pintado a amarelo.

Fachada Norte de 4 panos definidos por 4 contrafortes de cantaria; embasamento saliente, pintado a cor amarela, envolvendo as bases quadradas dos contrafortes; remate reto em cornija e beirado; no 1º pano, o volume adossado do batistério, com o alçado Norte rasgado por janelão retangular e os restantes cegos; sobre o batistério, no alçado da nave, rasga-se janelão retangular, em capialço, com molduras de granito; no 2º e 3º pano e uma em cada um dos restantes; no 4º pano, corresponde à capela-mor, e a ela adossado o volume saliente da Sacristia, com porta de acesso, de verga reta e molduras graníticas, rasgada no seu alçado Oeste, precedida por lance de escadas de granito; no seu alçado Norte cruz processional idêntica às já descritas; remata em cornija moldurada e beirado.

Fachada Sul semelhante à Norte, mas janelas idênticas e sob elas 2 cruzes processionais; no 4º pano, correspondente à capela-mor, o corpo adossado da Torre Sineira, delimitado à esquerda por contraforte embebido no muro e no ângulo Sueste, por cunhal apilastrado de alvenaria, pintado a cor amarela; a Torre apresenta alçados de pano único, definidos por cunhais de alvenaria, pintados a cor amarela, e 2 registos, definidos por cornija moldurada envolvendo todos os alçados, e atingindo o 1º registo a altura do corpo da nave; o registo inferior é cego exceto na face Este onde se rasga pequena fresta quadrada, reentrante; no segundo registo rasgam-se as sineiras, em arco de volta perfeita, duas nos alçados Sul e Norte e uma nos alçados Este e Oeste, as sineiras apresentam molduras simples, ligeiramente relevadas e pintadas a amarelo, e parapeitos preenchidos em alvenaria, rebocada e caiada; remate em cornija moldurada, com urnas coroando os cunhais e mostradores de relógio, inseridos em composição de alvenaria em frontão redondo, coroando os 4 alçados; cúpula coroada por catavento e cruz em ferro; no alçado Este da Torre, ao nível do 1º registo, encontra-se embebido, correspondendo ao 5º pano da fachada Sul, o corpo anexo; tem acesso por porta rasgada na face Sul, de verga reta e molduras graníticas; superiormente duas cruzes processionais idênticas às anteriores; à esquerda este pano remata em meia empena e à direita em empena, correspondendo à capela-mor; o corpo da direita, correspondendo à Sacristia, apresenta pano único, rasgado superiormente por janela retangular, disposta na horizontal, com molduras pintadas a cor amarela; possui alto embasamento saliente e remate em meia empena; o alçado da nave, mais elevado, apresenta óculo de iluminação e remate em empena; os alçados

Norte e Sul da capela-mor, mais elevados que os corpos da Sacristia e do anexo, apresentam-se cegos com remates em cornija moldurada e beirado saliente.

*1. INTERIOR:

Nave retangular com cobertura em abóbada de berço, assente em sanca moldura, envolvente, decorada por caixotões com molduras de estuque a branco sobre fundo amarelo; pavimento pétreo, nas faixas centrais e laterais, em tacos de madeira na restante superfície.

Alçados ritmados por altos nichos em arco de volta perfeita, 3 por banda, rasgado ao alto por janelão retangular de iluminação e, sob ele, nicho de volta perfeita albergando imagem sob mísula de mármore; ao centro de cada alçado, abre-se arcada de granito, de 3 pontos, albergando confessionário de madeira.

Guarda-vento de madeira com portadas de vidro. Coro-alto ocupando a largura do 1º nicho de cada alçado, que por este são interrompidos; o coro assenta em abóbada abatida, de lunetas cegas, sustentada a Este por arco de 3 pontos, apoiado em pilares de cantaria; balaustrada moderna de madeira, ferro e metal; no subcoro, a ladear a porta de entrada, 2 vãos retangulares, cegos; do lado da Epístola, rasgam-se duas portas, de vergas retas, a 1ª de acesso a uma arrecadação, a 2ª com molduras de granito, de acesso ao Coro-alto, por escada de mármore, moderna; do lado do Evangelho, arcada de granito, de 3 pontos, idêntica às do alçado da nave, de acesso à Capela Batismal; esta é da planta retangular, com cobertura abobadada, pavimento pétreo, policromo, vão retangular de iluminação, com vitrais modernos, no alçado Norte e, ao centro, pia batismal, octogonal de granito a ladear a arcada da Capela Batismal, 2 vãos retangulares, cegos, idênticos ao do alçado Oeste do subcoro. Revestindo todos os alçados da nave, da capela batismal, dos nichos da nave, e da capela-mor, sanca envolvente, em azulejo de padrão azul e branco, assente em rodapé pintado fingindo mármore.

Arco triunfal de granito, de volta perfeita, com acesso por 2 degraus.

Capela-mor de planta retangular, com cobertura em abóbada de berço, sobre sanca moldurada, e pavimento pétreo, policromo; junto ao arco triunfal, em cada alçado, nicho quadrangular, cegos, com parapeito de mármore e molduras de alvenaria molduradas; segue-se porta reta, de molduras graníticas, comunicando, a do lado da Epístola, com o corpo anexo de acesso ao trono e torre sineira, a do lado do Evangelho com a Sacristia. Retábulo Mor de planta reta e um só eixo vertical, em estuque pintado imitando mármore rosa; soto banco pintado imitando mármore azul; corpo central constituído por nicho quadrangular rematado por frontão curvo, com cortina ocultando o trono, de madeira com apontamentos de talha dourada; nos corpos laterais duas colunas compósitas, de fustes pintados imitando mármore verde; e bases e capitéis dourados, imitando talha; as colunas assentam em bases salientes com apontamentos de estuque, ao nível do banco, e suportam entablamento, com friso dourado e cornija decorada de dentículos e molduras a dourado; ático em frontão interrompido com tímpano decorado por estuques com brasão e grinaldas, em branco e dourado.

SACRISTIA: de planta retangular com cobertura abobadada e pavimento em tacos de madeira; arcaz de madeira moderno e lavabo de mármore, de duas penas, com espaldar decorado por enrolamentos, cruz flordelizada e concha.

TORRE SINEIRA: com escada helicoidal, de granito, de 48 degraus *2.

Época de Construção

Século 16/ 17/ 18.

Cronologia

1318 – Nesta data já existia uma igreja, então comenda da Ordem de Avis; 1532, 13 de Outubro – o abade de Claraval, D. Edme de Saulieu, visita a primeira igreja matriz, então dedicada a Santa Maria e anexa à igreja de São João de Coruche demolida no século 19 (v. 1409010017); a igreja era humilde e pequena, compondo-se apenas de um pequeno altar com a respetiva pedra de ara e situar-se-ia provavelmente no local onde hoje se encontra a casa que faz gaveto para o Largo e Calçada da Liberdade (LOPES, 1961);

01 de maio de 1534 – visitação da primitiva igreja na qual se refere não possuir frontal, ter batistério com a respetiva pia batismal; o visitador mandou então forrar a ara de “bocassim ou doutro pano de linho bõo”, a colocação de frontal no altar-mor e a inventariação dos bens da igreja;

1538 – Data numa das misericórdias do antigo cadeiral; Século 16, meados – a primitiva igreja encontrava-se arruinado;

1570 – Início da construção do templo atual, por conta dos beneficiados da Igreja de São João de Coruche da qual era anexa, em local diferente do da igreja primitiva que foi então desafeta ao culto; com a construção da igreja, junto aos então já existentes Paços do Concelho (v. 0707030015), o centro da vila desloca-se do Largo do Calvário para a Praça;

1575 – Realizam-se no templo as reuniões da Confraria da Misericórdia, visto que a Igreja da Misericórdia não estava ainda concluída (v. 0707030011);

04 de agosto de 1580 – última reunião na igreja da Confraria da Misericórdia; 1602 – provável feitura do portal principal durante o arcebispado de D. Teotónio de Bragança;

1608 – Filipe III ordena o recomeço das obras que, talvez por falta de verba, se encontravam interrompidas; as empreitadas de acabamentos seriam entregues aos mestres de pedraria que aceitassem a arrematação que correria por conta dos beneficiários de São João de Coruche de que a igreja era anexa;

1654 – Por mercê de D. João IV, a comenda da igreja é dada a Gaspar de Faria Severim;

1748 – Data num dos sinos; século 18, 1ª metade – provável feitura de um dos cadeirais;

1754 – Encontra-se na posse do Conde de Vimieiro, D. Sancho de Faro; Século 18, 2ª metade – provável doação do órgão do coro, pelo Arcebispo D. Francisco de Mãe dos Homens Anes de Carvalho, proveniente de uma igreja de Évora; lavabo da Sacristia;

1 de novembro de 1755 – danos causados pelo terramoto logo reparados pelo prior Fr. Manuel Caeiro da Veiga;

1758 – Já se encontrava reparada possuindo altar-mor e altar colateral do Santíssimo Sacramento, altar de Nossa Senhora do Rosário, altar das Almas Santas, estando instituídas as respetivas Irmandades bem como a de Nossa Senhora da Graça (CARDOSO, 1758);

1835 – São levadas para a igreja várias alfaias setecentistas, de origem portuguesa, provenientes do antigo Hospício de São Nicolau Tolentino (v. 07070300123);

1841-1845 – Campanha de obras levadas a cabo pela Confraria de Nossa Senhora do Rosário que alteram profundamente o carácter primitivo da igreja; 1845 – data num dos sinos;

1874 – Data na peanha da cruz sobre a fachada principal assinalando campanha de obras de pedraria;

1881 – campanha de obras levadas a cabo pela confraria de Nossa Senhora do Rosário; estuques dos alçados a expensas de D. Joaquina Eufrásia Nunes Mexia; modificados os altares colaterais do Santíssimo Sacramento de Nossa Senhora do Rosário; obras de beneficiação na capela-mor, nomeadamente o retábulo; pintura em grisalha do teto; Século 19, finais – provável doação dos cadeirais de madeira, pelo Conselheiro Tenreiro Sarzedas, Governador do Distrito, provenientes do Convento de São Bento de Cástris (v. 0705170036); 1909, 23 de Abril – o sismo causa alguns danos nomeadamente a fendilhação da abóbada e do lintel do portal principal;

1940, após – alteamento no leito da Rua Catarina Eufémia provoca desnivelamento dos degraus de acesso da fachada principal de igreja;

1955 – Obras custeadas por D. Maria Laura Ribeiro Falcão de Sousa e seu marido Manuel Falcão de Sousa; revisão armação dos telhados, revestimento de cantaria granítica dos cunhais da fachada principal;

1969, finais – obras de revalorização de interiores dirigidas pelo arquiteto Raul David: remodelação do coro, altar-mor, supressão porta travessa, colocação sanca de azulejos provenientes da Fábrica Viúva Lamego; durante as obras, as missas dominicais realizam-se na fábrica MUndet;

1970, 18 de outubro – inauguração da igreja com a presença do arcebispo de Évora, D. David de Sousa, que preside à cerimónia.

Tipologia

Arquitetura religiosa quinhentista, neoclássica.

Fachada principal orientada, em eixo.

Retábulo-mor neoclássico.

Pia batismal de finais do Século 16.

Escalinata helicoidal quinhentista.

Características Particulares

A torre sineira colocada junto à cabeceira facto do qual resulta serem os morenses apelidados de “escaravelhos”