Igreja da Misericórdia de Mora

Tanto a Igreja como a própria Instituição da Santa Casa da Misericórdia, datam de 1575, mas só em 1581 é dita a primeira missa na capela. A Igreja sofreu grandes alterações na sua estrutura ao longo destes anos.

Em 1936, foi erguida uma torre que veio substituir o campanário, torre essa que mais tarde, em 1942 foi também demolida e construída uma outra, mas em tijolo e mais alta que a anterior.

Enquadramento

Urbano, no antigo terreiro da vila, adossado a Norte a casario baixo; fachada Oeste adossada a edifício de dois pisos onde funciona a estação dos correios; fachada Este abrindo para a rua calcetada aberta ao tráfego automóvel e com zona de parqueamento adjacente a este alçado; fachada principal abrindo para o largo através de escadaria pétrea de 3 lances, a toda a largura do alçado, envolta por passeio calcetado.

Descrição

Planta longitudinal composta por nave, capela-mor mais estreita, sacristia a Noroeste, corredor de ligação Oeste e torre sineira, de planta quadrada, a Sudoeste.; volumes articulados, massas dispostas na vertical.

Cobertura diferenciada em telhado de 4 águas na nave, de uma água no corredor e em coruchéu piramidal na torre.

Fachada principal a Sul de pano único delimitado por cunhais apilastrados; embasamento pintado unificando os corpos da nave e da torre sineira à esquerda; à direita, descentrado relativamente à nave, rasga-se o portal principal de verga reta, alteada, sobrepujada, de frontão triangular moldurado, tudo em granito; superiormente rasgam-se três óculos ovais, deitados; remate do corpo da nave em cornija e platibanda com perfurações cruciformes; no corpo da sineira rasga-se, inferiormente, porta simples com molduras graníticas e, superiormente, sineira de volta perfeita; superiormente os alçados da torre são limitados por cunhais apilastrados, coroados por pináculos piramidais; remates em cornija moldurada, envolvente; coruchéu de arestas pintadas e cruz de ferro no vértice; no alçado E. da torre rasga-se abertura retangular.

Fachada Este de pano único, rasgado por janela retangular, em capialço, descentrada; embasamento pintado e remate em cornija e platibanda idêntico ao da fachada principal.

Fachadas Norte e Oeste adossadas.

Alçados de alvenaria rebocada e caiada; cunhais, molduras de óculos, da sineira e da janela escaioladas e pintados a cor amarela; embasamento, moldura da cornija da torre e arestas do coruchéu, pintados na mesma cor.

INTERIOR:

Nave única com cobertura em abóbada de nervuras de volta perfeita, de 4 tramos, pintada a cinza e a branco, com os panos decorados por caixotões moldurados e encruzados em aresta viva e chaves decoradas por rosetas e flores em estuque escaiolado; as nervuras arrancam da sanca envolvente criando lunetas nos alçados, em arco de volta perfeita, 4 por banda e duas nos topos; estas lunetas, são decoradas por pinturas murais figurando fundos em mármores fingidos contidos por molduras, também fingindo mármores, mas em tom mais escuro; ao centro cartelas também pintadas, envoltas por elementos vegetalistas, grinaldas e concheados, com inscrições em latim; as lunetas do alçado Sul são rasgadas ao centro, interrompendo as pinturas murais, por óculos pintados a cor cinza e branca, acentuando as linhas de fuga.

Do lado do Evangelho: pia de água benta em mármore, concheada; porta simples de comunicação com o corredor; púlpito com caixa de madeira, de balaústres torneados, sobre base de mármore quadrangular ornada de lóbulos e óvulos e com acesso por porta reta de molduras pétreas; nicho de volta perfeita, com cerca de 1m X 1,5m, no qual se encontra andor de Nosso Senhor dos Passos, à escala natural; o tardoz do nicho foi aberto, em arco de volta perfeita, mais baixo, de molde a comunicar com o corredor de acesso à Sacristia.

Do lado da Epístola: sensivelmente ao centro, rasga-se superiormente janelão retangular em capialço; nicho em arco de volta perfeita, fronteiro e com as mesmas dimensões do lado oposto, albergando imagem de Nossa Senhora do Carmo, sobre peanha de mármore, moderna. Rodapé envolvente, em azulejos azuis e brancos, de padrão, modernos. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras munidas de bases e mísulas molduradas, com acesso por um degrau; arco e pilastras com pinturas murais fingindo blocos de cantaria de mármore rosa e bases pintadas fingindo mármore negro; na chave escudo com as armas reais, em massa colorida. Pavimento da nave em lajes de cantaria; junto aos degraus de acesso do arco triunfal, ao centro laje sepulcral em mármore com inscrição.

Capela-mor retangular com a zona do altar ligeiramente elevada; cobertura em abóbada de berço, sobre sanca moldurada, com intradorso totalmente decorado por pinturas murais figurando medalhão central com a Mater Omnium, envolto por elementos vegetalistas, grinaldas e medalhões, do mesmo teor das pinturas da nave; do lado do Evangelho, junto ao arco triunfal rasga-se porta simples de acesso à Sacristia; Retábulo-mor constituído por simples nicho, em arco de volta perfeita, com camarim, contendo o sacrário e a imagem de Cristo na Cruz; sobre o arco pintura mural, figurando cartela fingindo mármores, idêntica às das lunetas dos alçados da nave, mas em forma de retângulo de lados curvos, acompanhando a curvatura do nicho e da abóboda; a ladear o nicho as imagens de São João Evangelista e de Nossa Senhora, sobre peanhas de mármore, modernas *1; mesa de altar, simples, moderna; pavimento em lajes de cantaria:

SACRISTIA: planta quadrangular, com cobertura de madeira, de uma água e pavimento de tijoleira; no alçado Norte, superiormente, rasga-se janela simples; a Este, à esquerda, porta de comunicação com o camarim e à direita porta de comunicação com a capela-mor; ao centro armário de madeira embutido; a Sul porta de acesso à torre sineira; a Oeste arcaz e a Norte lavabo de mármore dividido em 2 corpos distintos: fonte de duas penas, com gárgulas antropomórficas e superiormente, frontão com volutas e o emblema coroado do Hospício da Caridade *2.

CORREDOR: alçados com rodapé de azulejo idêntico ao da nave, pavimento de tijoleira; no alçado Oeste, junto à porta de entrada, nicho em arco de volta perfeita.

TORRE SINEIRA: Acesso pelo interior, através da Sacristia, por escada que conduz ao primeiro piso da torre, com cobertura em ripado de madeira, de uma água; acesso à sineira por porta envidraçada; sino em bronze fundido, trecentista, com inscrição alusiva a Santa Águeda e as siglas do fabricante.

Descrição Complementar

SEPULTURAS: Laje sepulcral seiscentista, em mármore regional, com inscrição muito delida, assinalando o túmulo do provedor Diogo Manhos e seus descendentes.

INSCRIÇÕES: Envolvendo a parte superior e inferior do sino (com 50 cm de diâmetro, decorado com as siglas do fabricante, dois selos relevados da Ordem de São Bernardo de Alcobaça, com bordadura em caracteres góticos, brasão dos Perdigões e sobre ele a imagem de São Bento) corre inscrição em português e latim: ERADE:MIL:ECCC:XXIX:ANOS:ME:MÃDO:FAZER:D:+/(DA.MAIOR:ABADESSA:MECTEM:SÃ NCTA)”. Inscrições lunetas pintadas: sobre o arco triunfal, do lado esquerdo” ” INCONSPECTU/ANGELORUM PSALLAM/ TIBI: ADORABO ADEM/SANCTUM”; do lado direito” SUPER MISERICOR/DIA & VETITATE TUA/QUONIAM MAGNIFICASTI/SUPER OMNE NOMEN/SACTUM”; do lado da Epístola, último tramo “INQUACUMQUEDIE/INVOCAVERI TE, EXAUDIME/MULTIPLICABIS INANIMA/MEA VIRTUTEM”; do lado do evangelho, o último tramo “CONFIEBORTIBI/DNE IN TOTOCORDE=/MEO: QUONIAM AUDISTI/VERBA ORISMEI.”.

Utilização Inicial

Cultural: igreja da misericórdia.

Utilização Atual

Cultual: culto esporádico; procissão do Enterro do Senhor na 6ª Feira Santa *3/ Funerária: capela funerária dos Irmãos da Misericórdia.

Época de Construção

Século 16/ 18/ 20.

Arquiteto/ Construtor/ Autor

Jordão Fernandes, mestre pedreiro; José de Escobar, pintor (Retábulo-mor); Luís Ferreira de Figueiredo Júnior e João Afonso da Costa Tição, mestres empreiteiros (remodelação século 20); Engenheiro Travassos Valdez (torre sineira).

Cronologia

1391 – Data no sino do campanário proveniente do Convento de São Bento de Cástris (v. 0705170036);

1575, 02 de julho – instituição da Santa Casa da Misericórdia de Mora e início (ou continuação *4) da construção da igreja sob a direção do Mestre Pedreiro Jordão Fernandes, oriundo de Pavia, segundo contrato firmado com os irmãos da Misericórdia Pêro Dias e Manuel Coelho; enquanto o templo não ficou concluído as primeiras reuniões da Confraria faziam-se na Igreja de Nossa Senhora da Graça (v. 0707030010);

1578, 27 de julho – o mestre pedreiro Fernando Roiz de Mora substitui Jordão Fernandes nas obras de construção da igreja;

1581 – Inauguração da igreja e celebração da primeira missa sendo então provedor Martim Lopes ou Bartolomeu Serrão;

1588 – 1590 – encomenda pelo provedor da Mesa da Misericórdia, António Soeiro, ao pintor José de Escobar, para realização de painéis do Retábulo-mor, pela importância de 20.000 réis;1607, 1614, 1618, 1627 e 1631 – é provedor Diogo Manhos;

1632 – Pintura da bandeira da misericórdia por Sebastião Garcia, morador em Avis, “pintor de óleo e de imaginária”, pela quantia de 15.000 réis; século 18, 1ª metade – lavabo da Sacristia;

1712 – O Padre Carvalho da Costa refere existência da Misericórdia e hospital, século 18, finais – provável data de execução da decoração pictórica, cobertura da capela-mor e lunetas da nave;

1936 – Profundamente restaurada a mando do provedor José Garcia Nunes Mexia e a expensas de D. Joaquina Nunes Mexia, sendo empreiteiros os mestres Luís Ferreira de Figueiredo Júnior e João Afonso da Costa Tição; construção de uma torre substituindo o primitivo campanário; construção do púlpito reaproveitando uma base de meados do Século 17; renovação do escudo sobre o arco triunfal;

1942 – Demolição da torre e posterior construção da atual, em tijolo e mais alta, segundo projeto do Engenheiro Travassos Valdez.

Tipologia

Arquitetura religiosa, quinhentista. Igreja de Misericórdia quinhentista, de nave única com cobertura primitiva, de finais do século 16, em abóboda nervurada desenhando caixotões de losangos, com decorações de estuque.

Capela-mor retangular, mais estreita, com cobertura em abóboda totalmente revestida por pinturas murais figurando a Mater Omnium enquadrada por grinaldas de flores e laçarias, motivos vegetalistas que se repetem nas lunetas da nave emoldurando tabelas com inscrições relativas à da Misericórdia, obra de finais do século 18.

Características Particulares

Igreja da Misericórdia penta centenária, profundamente remodelada ao longo dos séculos, com abóboda de caixotões quinhentista e pinturas murais na nave e capela-mor de finais de setecentos.

O sino do campanário, um dos mais antigos em bronze fundido existente no Sul do país, com inscrição alusiva à lenda de santa Águeda, conhecendo-se apenas outros 3 sinos com epigrafia relativa: o da Extinta Igreja Paroquial de São Pedro de Évora, dos inícios do Século 16 (v. 0705210099) e um outro, desaparecido com o terramoto de 1755, que se encontrava numa das torres da Sé de Lisboa, datado de 1375 (v. 1106520004) (ESPANCA, 1975).

Dados Técnicos

Estrutura mista.

Materiais

Paredes de alvenaria rebocada e caiada; molduras de cantaria granítica ou de alvenaria escaiolada e pintada; pavimentos de tijoleira e lajedo de cantaria, com coberturas em telha; azulejos, estuques.

Observações

*1 – Espanca refere a existência de um Retábulo-mor de alvenaria, com colunata pintada de escuro, lisa e capitéis coríntios, dourados; possuía um tríptico, a óleo sobre madeira, maneirista de carácter populista, desmembrado e em parte desaparecido, figurando nos volantes São João Evangelista e Santa Maria Madalena, e no ático, arredondado, Nossa Senhora da Piedade; o painel central, medindo 2,20 m X 2,30 m, figurava a Visitação e encontrava-se então colocado na parede da nave do lado da Epístola, estando destinado à futura Biblioteca-Museu de Mora; *2 – o Hospício da Caridade funcionava adrede ao Hospital da Misericórdia; Espanca refere que se guardavam na Sacristia algumas bandeiras da misericórdia, sobre tela, setecentistas de carácter popular, muito deterioradas, tendo a melhor, recolhida no Hospital da Misericórdia, sido pintada por Sebastião Garcia (ESPANCA, 1975); *3 – a procissão é a mais antiga do Concelho, remontando ao século 16, e atraindo a si grande parte da população; abre a Bandeira da Misericórdia, colocada na horizontal; as janelas das casas iluminam-se de velas ou lamparinas de azeite; *4 – pelo Termo de Abertura do primeiro Livro de Acórdãos da igreja é provável que a fundação do templo seja anterior e que, aquando da instituição da misericórdia, o edifício já se encontrasse em construção, para a qual D. Sebastião teria dado a necessária licença por meio de alvará, entretanto perdido, mas mencionado no rol de bens dos mesários CORREIA, 1964).